Afonso Motta: "Rio Grande de pé, pelo Brasil era a frase que se misturava a hinos patrióticos e vivas à revolução que alcançou o Catete. Certo é que o presidente Getúlio Vargas moldou a cidadania e ofereceu a vida pela democracia".
Num filme que provoca profunda reflexão política, Tony Ramos
interpreta Getúlio Vargas no seu fim. Através da ficção procura as
razões que levaram o então presidente a dar um tiro no coração. Optou
pela morte, como expresso na Carta Testamento, para entrar na história.
A
narrativa dos últimos dias do presidente até o suicídio despertam o
interesse pelo mito Getúlio Vargas, sua trajetória e a contribuição para
a constituição da nação brasileira. As cenas marcantes da multidão
carregando o corpo de Vargas e a repercussão nas ruas da maior comoção
nacional de todos os tempos revelam a sintonia dele com o povo.
Foi um
Congresso Municipalista que aclamou Getúlio como candidato de
conciliação do Rio Grande do Sul para alcançar a união nacional. Vejam
bem e
considerem a realidade atual, foi uma união suprapartidária até então
impensável, que viabilizou a frente única gaúcha.
A plataforma na época
era inovadora porque pregava a concessão de direitos sociais aos
trabalhadores, o fim das leis repressoras, aferição dos serviços
oferecidos pelo Estado à população, combate rigoroso da inflação,
reforma fiscal, implementação de um parque siderúrgico próprio e
ampliação dos direitos da cidadania.
Apesar das críticas radicais da
imprensa e setores mais conservadores, Getúlio fez mais do que prometeu.
Não sem antes perder a eleição por larga margem de sufrágios e liderar
uma revolução que explodiu nas ruas. Rio Grande de pé, pelo Brasil
era a frase que se misturava a hinos patrióticos e vivas
à revolução que alcançou o Catete. Este um capítulo que poderia se
transformar em outro filme.
Em 1950 Getúlio voltou ao debate nacional,
prometendo nacionalizar o petróleo, aumentar o salário mínimo, ampliar
as leis trabalhistas ao homem do campo e reforma agrária. Eleito,
novamente fez mais do que prometeu. Controlou as moedas estrangeiras
para favorecer as exportações e evitar as perdas internacionais, criou o
BNDE e limitou a remessa de lucros ao exterior, ampliou os direitos
políticos e aumentou o salário mínimo em 100%.
Não conseguiu realizar
as reformas de base depois proclamadas por Jango e que ainda são
fundamentais para o desenvolvimento do país, nem tampouco venceu a
conspiração permanente das forças conservadoras. Certo é que o
presidente Getúlio Vargas moldou a cidadania e ofereceu a vida pela
democracia. Revivido na tela porque nosso personagem político mais
intenso e autêntico, trajetória que não se esgota e é desafio constante
para os produtores culturais.
Afonso Motta
Advogado e produtor rural
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