LEITE CONTAMINADO




   O leite animal está na base da alimentação humana e seu consumo remonta há tempos pré-históricos, presente na vida desde a primeira hora, nos seus ritos e mistérios. Médicos célebres já na antiguidade indicavam o produto como benéfico à saúde e com fins terapêuticos, o que nos dias atuais o faz insubstituível com reconhecidos atributos nutricionais, especialmente proteínas de alto valor vitamínico. 

   Acontece que recentes investigações do Ministério Público com a participação do Ministério da Agricultura confirmaram a adulteração do leite por formol e em informe atual acrescentam que a água misturada à bebida apresentava bactéria de esgoto. Portanto, ocorreu dupla fraude com a presença de uréia, formol e água imprópria para o consumo com coliformes fecais. 

  É a “Operação Leite”, que tanta vergonha e por que não dizer humilhação causa ao povo gaúcho, consumidor do alimento e produtor por vocação, atividade que recebe tanto estímulo e evidencia na atual política governamental de incentivo à atividade econômica dos produtos originários do campo.

   Causa ainda maior repercussão entre a população ter sido provado com as gravações telefônicas do Ministério Público, o pleno conhecimento dos envolvidos sobre o elementar risco à saúde das pessoas. O fato impacta especialmente porque a principal função do leite é nutrir e alimentar os filhos até que sejam capazes de digerir outros alimentos.  

  O certo é que lamentavelmente um número expressivo de consumidores bebeu cerca de 600 mil litros de leite contaminado causando perplexidade e provavelmente seqüelas na saúde das pessoas. 

  Por conseqüência, muitas questões estão no centro dos debates sobre a eficácia da fiscalização pelas autoridades e o cuidado que todos temos de adotar com a origem dos produtos que adquirimos. A procedência e a sanidade dos alimentos são fundamentais para qualquer cidadão, mas em especial para as crianças, as maiores vítimas no caso.

   Quando a estimativa da fraude é apresentada como responsável pelo transporte de 100 milhões de litros por ano a conseqüência é equivalente a uma grande epidemia. Portanto os crimes apontados são na maioria dolosos. Quiseram propositalmente fraudar e envenenar milhares de pessoas e crianças. 

  O setor leiteiro com certeza também vai pagar um alto preço, até porque seja por ação ou omissão toda a cadeia está sob investigação. Pode-se afirmar que nada tem a ver com a fraude uma parcela substancial da indústria, dos produtores ou dos transportadores, mas a credibilidade geral está abalada.

   A sociedade precisa do esclarecimento total do episódio, sua verdadeira extensão, a punição dos culpados e após uma ampla campanha informativa para que o leite recupere a sua indiscutível importância como alimento saudável e nutritivo.

Afonso Motta
Advogado, produtor rural e
Secretário de Estado

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