O que houve afinal? Restou apenas: "Um nome de rua e muita saudade" - texto de autoria de Sérgio Gabardo
Foto: www.cartelbrasileiro.com
Minhas amigas e meus amigos:
Esta
noite perdi o sono novamente, como me tem ocorrido com bastante
freqüência. E aí me pus a pensar e cheguei à dolorosa conclusão quando
me veio à mente uma frase: Um nome de rua e muita saudade. Foi nisso que
se transformou meu filho amado, o Mário.
Assassinado
convardemente na noite de 29 de setembro de 2005, meu filho Mário, de
apenas 20 anos, virou nome de uma rua na cidade de Canoas, onde ocorreu o
brutal crime e onde residimos, e nada mais, para as autoridades deste
nosso Brasil continental, deixando muita, mas muita saudade mesmo.
Naquela
noite, meu filho Mário, como fazia regularmente, saiu para se encontrar
com amigos de infância. Iriam fazer uma costumeira confraternização.
Saudável. Mas não chegou ao local do encontro com os companheiros. Foi
assassinado covardemente.
De
lá para cá, nesses 86 meses, pasmem! Tenho tentando entender o que
realmente teria acontecido naquela trágica noite, quem teriam sido seus
verdadeiros assassinos e quais motivos teriam para ceifar a vida do meu
filho Mário, um jovem de futuro promissor, que não cultivava inimizades
ou desafetos.
Tinha
apenas amigos e, por onde passava, marcava por seu carisma, por sua
educação, por sua postura honesta e por seu desempenho profissional.
Estava para concluir o curso de Direito na PUC-RS.
Surge,
costumeiramente em mim, um aperto enorme no peito. É a saudade imensa
que toma conta do meu ser e faz brotar lágrimas quase sempre
incontroláveis. Preciso procurar abrigo no banheiro mais próximo para
tentar me recompor. É duro demais a dor de um Pai que perde seu filho
dessa forma e que, como consolo, algumas autoridades públicas imaginam
que, dar o nome de uma rua ao filho amado perdido abruptamente, pode
amenizar o sofrimento.
Grande
engano. A saudade é imensurável e a sensação de impunidade é cada vez
mais crescente, à medida em que o tempo nos consome. Apesar
das centenas de apelos, correspondências e telefonemas, o poder público
não me acenou com a menor possibilidade de se fazer Justiça.
Reina a impunidade e o descaso tem a mesma proporção.
Ninguém
conseguiu até agora, passados 2.580 dias, me dizer quem assassinou o
meu filho Mário ou quem mandou ceifar sua vida e, principalmente, por
qual motivo meu filho Mário foi morto de maneira tão covarde.
Nenhuma
dessas chamadas autoridades da segurança pública se sensibilizou com os
apelos de um Pai que busca Justiça. Mas nenhuma mesmo! Leio
sistematicamente as estatísticas assustadoras dos crimes insolúveis e
fico a imaginar: quantos outros pais, como eu, estão na mesma situação?
Quantos outros filhos os assassinos do meu amado filho Mário já mataram
por aí, acobertados pelo Manto da Impunidade? Ninguém consegue responder
a essa simples indagação.
Mas o descaso fala por si só.
Inaceitável!
Inadmissível!
Enquanto
a dor toma conta de todo o meu ser, resta-me bradar por Justiça. Bem
distante de qualquer sentimento de vingança, como crente em Deus,
continuo lutando por Justiça. É meu dever de Pai. É meu direito
inalienável. Devo isso ao meu filho amado Mário.
O poder público constituído me deve essa explicação.
Enquanto ela não vier, continuarei minha luta por Justiça, pois quero
sim, ver os assassinos e/ou os que encomendaram a morte do meu filho
amado Mário, identificados e encaminhados ao poder Judiciário para
pagarem, perante toda a sociedade, pelo crime hediondo que cometeram e
por todos os outros que certamente também são responsáveis.
Sérgio , Pai do Mário
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